Seres humanos são curiosos em suas fortalezas e em suas fragilidades. Poucos fotógrafos conseguem captar essas ambiguidades tão bem como Ale Ruaro. Seja nos retratos em que capta flagrantes de pessoas, célebres ou anônimas, seja em séries em que a sexualidade e a sensualidade têm um papel preponderante, seu tema são as pessoas.
E isso significa entrar num campo minado de sutilezas, porque as leituras que ele compõe de seus retratados trazem interpretações visuais poderosas, nas quais os recursos técnicos da luz, do claro/escuro e da composição assumem aspectos fundamentais.
Os retratados tornam-se objetos plásticos, mas isso não lhes tira humanidade. Analogamente, quando os retratados tiram a roupa isso não lhes traz necessariamente sensualidade. O nível de nu que o fotógrafo coloca, com ou sem trajes, é o da alma. As imagens trazem uma verdade existencial que inibe, pois é intensa.
Mostrar essa humanidade, simples e complexa, demanda uma interação entre quem fotografa, quem é fotografado e quem vê. O desafio não é meramente retórico ou técnico. É existencial. E isso exige dos três integrantes do processo uma humildade perante si mesmo, o outro e o mundo. Despir-se para revelar-se é um desafio. E estar com ou sem roupa nesse processo faz pouca diferença.
Oscar D'Ambrosio é mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura.